domingo, 24 de abril de 2011

Púrpura Trombocitopênica Auto-Imune

Uma das causas mais comuns de plaquetopenia é a PTI (sigla que representava Púrpura Trombocitopênica Idiopática, hoje denominada auto-imune). Era idiopática pois a queda da plaqueta era real, não apenas um artefato por consumo dentro do tubo, porém sem causa determinada. Hoje chama-se auto-imune pois sabe-se que a plaquetopenia é causada pela destruição das plaquetas produzidas, e não por uma diminuição na produção. Esta diferença é fundamental e a certeza do diagnóstico só é obtida com a punção da medula óssea (o mielograma), que diferenciará patologias que afetam a produção da medula (geralmente doenças mais graves, como as leucemias ou a aplasia) daquelas em que a produção está normal (o mielograma portanto mostrará como resultado série megacariocítica normal). O termo auto-imune nos remete a uma patologia semelhante ao reumatismo; veja que na artrite reumatóide o organismo produz anti-corpos contra ele próprio, fazendo, por exemplo, que estes anti-corpos destruam as articulações das mãos e dos dedos, causando aquelas deformidades conhecidas da doença. Já na PTI, o anti-corpo destrói a plaqueta produzida normalmente, fazendo com que seus níveis diminuam no hemograma. As plaquetas restantes, porém, funcionam normalmente e às vezes aparecem até como mega-plaquetas, fazendo sua função de hemostasia mesmo em níveis baixíssimos abaixo de 20.000. Na maioria dos casos, a púrpura resolve-se espontaneamente, sem tratamento. Em 10 a 15% dos casos, entretanto, a PTI se cronifica e pode permanecer por toda a vida. Logicamente, níveis mantidos acima de 30.000 plaquetas são seguros, não exigindo medicações a não ser em situações pré-cirúrgicas, inclusive procedimentos dentários. Já a plaquetopenia com níveis mínimos extremos, entre 1.000 a 10.000 plaquetas, exigem uma intervenção. Não chega a ser um tratamento pois não é curativo, porém o uso de cortisonas diminuem a ação dos anti-corpos, aumentando a dosagem das plaquetas, porém os valores tendem a retornar a níveis baixos assim que a medicação é suspensa. Em casos de plaquetopenia leve, com o paciente assintomático, pode-se até deixar de colher o mielograma num primeiro instante, porém se o uso da cortisona é indicado, o mielograma torna-se obrigatório. Isto acontece para haver a diferenciação entre uma PTI e uma leucemia; se o mielograma for colhido após uma dose de cortisona ele já não é confiável, pois a cortisona é uma das drogas que compõe a indução (início do tratamento quimioterápico) de uma leucemia. Até a próxima.

Um comentário:

  1. Prezado Dr. Luís Claúdio,

    Fui encaminhado a uma hematologista pois todos hemogramas que tenho feito (ao menos os que fiz nos ultimos dois anos, que são os que tenho guardado) apresentaram uma quantidade de plaquetas abaixo da referencia (variaram entre 90.000 a 140.000, não necessáriamente em ordem decrescente, mas a menor quantidade foi o do mais recente). Então, a hematologista me pediu diversos exames, tendo alterações apenas na quantidade de plaquetas (90.000/mm3 com presença de macroplaquetas) e no FAN com nucleo reagente (titulo 1:80). Diante disso, ela me pediu mais alguns exames de sangue e o mieograma.

    Estou com duas dúvidas, caso possa esclarecê-las ficarei muito grato.

    - Há aproximadamente 6 meses atrás, fiz tratamento com prednisona indicados por uma dermatologista para uma coceira de um machucado que já havia cicatrizado há bastante tempo (iniciei com 40mg/dia e fui diminuindo até 5mg/dia). Então, no meu caso, seria possível essa diferenciação entre uma PTI e uma leucemia no meu mielograma, uma vez que fiz esse tratamento com prednisona há alguns meses atrás (estou com esta duvida, pois não comuniquei a hematologista sobre este fato, pois eu não sabia que poderia ser relevante)?

    - O exame de mielograma poderá, por algum incidente, levar alguma complicação? Tenho esta dúvida, pois fui me informar melhor sobre tal procedimento apenas quando cheguei em casa e, por se tratar da medula óssea, há algum risco deste procedimento gerar alguma complicação?

    Desde já, agradeço pela atenção.

    Att.,

    Felipe

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